Monday 4 June 2012

Blogger convidado: "Primeiro ano como directora de museu... Sobrevivi!", por Nina Simon (EUA)

Sou grande fã do blog de Nina Simon Museum 2.0.  Descobri-o há dois ou três anos e há duas coisas das quais gosto em particular: as suas preocupações com o envolvimento da comunidade no trabalho do museu e a forma como consegue pôr a teoria em prática. Há um ano, assumiu a direcção do Santa Cruz Museum of Art and History. A sua avaliação do primeiro ano nesse posto é um relatório lúcido, objectivo e realista, escrito por alguém que tem uma clara noção da sua missão, responsabilidades e capacidades. Nina Simon sabe onde vai e está pronta para fazer o que é preciso para lá chegar. O Santa Cruz Museum of Art and History tem sorte em ter uma directora com as suas qualidades. mv

Imagem retirada do blog Museum 2.0 

Hoje é o meu primeiro aniversário como directora executiva do Santa Cruz Museum of Art & History. Há um ano, coloquei o meu chapéu de consultora na prateleira e decidi mergulhar na gestão de museus (uma frase que NUNCA teria imaginado escrever cinco anos atrás).

Foi um ano selvagem e maravilhoso – sem dúvida, o meu mais desafiante e estimulante até agora. Passámos por uma reviravolta financeira dramática e redefinimos a nossa relação com a comunidade através de uma série de projectos participativos experimentais e novas abordagens programáticas. Emergimos do outro lado com aumentos dramáticos do número de visitantes (62%), das assinaturas (30%) e estabilidade financeira (inestimável). Temos novos apoios de fundações e indivíduos que se preocupam com a inovação no envolvimento dos públicos – e, mais importante ainda, participantes muito excitados que querem experimentar connosco. As pessoas aparecem, envolvem-se e partilham o seu entusiasmo a rodos. Pessoalmente, aprendi a trabalhar em mundos completamente novos, desde o fundraising à gestão e ao desenvolvimento da comunidade. É um trabalho extremamente gratificante. Sinto-me com sorte.

Estou aberta a quaisquer questões que queiram levantar nos comentários. Entretanto, aqui estão algumas das…

COISAS DE QUE ME ORGULHO MAIS:

Redefinimos o nosso papel na comunidade. Sempre me interessei na missão social dos museus e estou convicta que o MAH terá sucesso se não formos apenas uma grande organização cultural ou educativa, mas sim, uma grande organização comunitária – uma que tenha uma relevância significativa para os assuntos de maior importância em Santa Cruz. Estou orgulhosa das nossas parcerias com o Homeless Service Center, Second Harvest Food Bank, UCSC, the Chamber of Commerce e outras organizações que estão no coração da identidade de Santa Cruz. Aguardo com expectativa por mais parcerias estratégicas que apoiem amplamente o desenvolvimento comunitário no nosso país.

Simplesmente fizemos. Não passámos por um extenso processo de planeamento, seguido de passos para a frente deliberados e cuidadosos. Tínhamos uma visão, uma lista de objectivos para o primeiro ano e um ataque energético (se bem que subfinanciado). No ano que passou, desenvolvemos várias metodologias e abordagens e planeamento para o nosso trabalho – como a nossa filosofia de exposições e o processo de desenvolvimento de um programa comunitário - e fizemo-lo repetidamente através de uma série de experiências. Tentámos e testámos e brincámos e trabalhámos e ainda estamos a fazê-lo. Como diz a Kathleen McLean, é um “museu como protótipo” e é um trabalho emocionante e profundo para todos nós.

ERROS QUE COMETI:

Usei a palavra F. Quando cheguei, o MAH estava à beira da falência – tínhamos dinheiro no banco para menos de uma semana. Nos primeiros dias, dizia aos doadores e aos meios de comunicação que o museu estava a falhar e que precisávamos do seu investimento e compromisso para dar a volta e prosperar. Esta narrativa funcionou bem com a imprensa - especialmente quando tivemos alguns primeiros resultados impressionantes – mas foi desmoralizante e ofensiva para alguns funcionários e voluntários que tinham trabalhado muito para proporcionarem aos visitantes as melhores experiências possíveis em anos anteriores. Os membros da equipa ajudaram-nos a reencaixar o nosso discurso e passámos a falar de um museu que se transformou de um “modelo tradicional para um modelo do século XXI”, em vez de um museu que falhou e depois conseguiu.

Confundi tendências financeiras com posição financeira. Quando cheguei, vi uma instituição que tinha operado durante anos no vermelho. Tínhamos que reverter a tendência e fiz cortes e mudanças drásticos e imediatos para cortar nas despesas. Todos fizeram sacrifícios. Pensei que era a única opção. Tivemos layoffs e todos os funcionários que permaneceram tiveram um corte de 20% no salário (que se repôs nos seis meses seguintes, à medida que foi conseguida uma reserva operacional). Depois, a reviravolta aconteceu mais rapidamente do que esperava e agora vejo a situação de forma um pouco diferente. Talvez, em vez de pensar que precisávamos de dar a volta ao fluxo de caixa mensal, deveria ter pensado sobre o caixa líquido necessário para nos colocarmos numa base mais estável. Se estivesse novamente na mesma situação, poderia ter feito a mesma opção, mas acho que colocaria mais opções na mesa durante a tomada de decisão.

Não prestei a devida atenção ao stress causado por uma mudança disruptiva. Apesar de considerar que fiz um bom trabalho ao comunicar a minha visão para a reviravolta e as mudanças com o pessoal, não foi o mesmo quanto a stress expresso – e sobretudo não expresso – que as acompanhou. Apesar de eficiente como uma ferramenta para mudanças rápidas, “abraça o caos” não é uma estratégia de gestão confortável. Reconheço a todos na nossa equipa o facto de se terem adaptado e procedido com entusiasmo e optimismo.


COISAS QUE ME SURPREENDEM:

O papel central de experiências conduzidas por eventos. Desde o primeiro dia, acreditei que no nosso primeiro ano precisávamos de nos concentrar na criação de novos eventos participativos para nos envolvermos com a comunidade. A minha teoria era que os visitantes seriam introduzidos ao museu através de eventos e depois regressariam para visitas durante o dia às salas de exposições. Em vez disso, descobrimos que efectivamente regressam – para mais eventos. Oitenta e cinco por cento dos nossos visitantes visitam aquando da organização de eventos. Os eventos geram visibilidade nos media, concentram a atenção pública e são catalisadores de energia social. Estamos ainda a considerar como vamos negociar a relação entre eventos e visitas normais no  que diz respeito a horários, preços e atribuição de recursos – mas isto é algo que, sem dúvida, vamos continuar a explorar.

O efeito cumulativo da participação. Falo frequentemente da participação dos públicos como uma ferramenta – uma entre muitas – para aumentar o envolvimento. Apesar de continuar a acreditar nisto, no MAH estamos a ver alguns dos efeitos surpreendentes do uso de várias técnicas participatórias debaixo do mesmo tecto. A nossa mensagem para a comunidade para se envolver, em combinação com políticas que promovem uma colaboração flexível e paragens em todo o edifício que convidam para a participação, está a gerar níveis e tipos de actividade co-criativa notáveis, em todos os campos. É comparável à diferença entre um espaço com poucos interactivos e um centro de ciência interactivo – muda a forma como as pessoas se envolvem e quem vem. Não estou a dizer que cada instituição pode ou deve seguir a mesma direcção, mas é a primeira vez que vejo esta prática em acção e estou impressionada com a distinção.

A rapidez e extensão da reacção da comunidade. Temos ainda um longo caminho pela frente para o tornar o MAH no “próspero e central lugar de encontro” da nossa visão. Mas é bastante impressionante ver com que rapidez mudou o nosso papel aos olhos dos membros da comunidade. Visitantes, membros, doadores, voluntários e os media têm sido efusivos quanto àquilo que descrevem como a “nova energia” no museu. Não imaginei que iria acontecer num espaço tão breve de tempo e acho que vai-nos ajudar a todos – equipa, board e membros da comunidade – a continuarmos a conversa sobre o como manter a energia.

O possível determinismo da geografia cultural. Costumava dizer que a participação pode funcionar em todas as culturas e todos os tipos de instituições – é só uma questão de encontrar o tipo certo de participação para essa comunidade. Apesar de ainda acreditar nisso, estou frequentemente impressionada pelo facto da nossa história ser muito “Santa Cruz”. Abraços de borla para novos membros, projectos de escultura colaborativos, festivais de fogo…    estas coisas poderiam funcionar em muitos sítios, mas não tenho a certeza se teria suscitado o mesmo interesse, paixão e entusiasmo quase universal que estamos a gozar. Falei sobre isso com amigos internacionais do mundo dos museus na American Association of Museums e tinha reacções mistas – alguns aceitaram o conceito de nicho de Santa Cruz, outros não. Mais uma vez, estamos a reflectir sobre isto.

Um brinde ao ano que vem, que espero que seja tão cheio de aprendizagens, envolvimento e experimentação como o anterior. E com mais tempo para dormir. Isto seria bom também.


[Texto inicialmente publicado no blog de Nina Simon Museum 2.0]

Nina Simon é directora executiva do Santa Cruz Museum of Art and History  http://www.santacruzmah.org/. Projecta e investiga experiências participativas em museus. É a autora do livro The Participatory Museum e do blog Museum 2.0, com mais de 30000 visualizações semanais.

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